Mulheres no agronegócio: os desafios na busca por sustentabilidade
Aos 79 anos, Eneida Paschoal, uma produtora agrícola experiente, está imersa em um novo projeto no campo. A produtora está atualmente dedicando seu tempo aos estudos, com o objetivo de cultivar cerca de 50 hectares de café na região de Ribeirão Bonito. Seu objetivo é liderar a produção de uma cultura perene com uma demanda crescente no país. Eneida iniciou sua jornada no setor agrícola em 1964, quando tinha apenas 18 anos, logo após seu casamento. Ela deixou a agitação da cidade de São Paulo para viver em uma fazenda no interior do Estado. Mais tarde, mudou-se com sua família para o Mato Grosso e retornou quando se separou de seu marido. Nos últimos 20 anos, ela se dedicou ao cultivo de laranjas, cana-de-açúcar e à criação de gado leiteiro. Essas mudanças nos tipos de cultivo foram uma resposta às constantes desafios financeiros enfrentados pelos produtores, conforme explicou Eneida.
Eneida destaca a importância da persistência para aqueles que dependem do que cultivam para sustentar suas vidas. Ela vê a persistência como uma característica fundamental que impulsiona a busca por conhecimento e práticas sustentáveis, a fim de enfrentar os desafios inerentes à agricultura, como as flutuações climáticas. Além de sua carreira como produtora, Eneida também fez história como a primeira mulher a presidir o Sindicato Rural de Ribeirão Bonito no final dos anos 1990. Ela continua a enfrentar com determinação os desafios do setor agrícola, assim como sua amiga Carla Campanha, também agricultora. Carla cultiva palmito e cria búfalos para a produção de leite em uma área de 20 hectares em Iguape, no estado de São Paulo.
Carla, que trabalha no sítio com seu marido há duas décadas, enfatiza que o principal desafio das pequenas produtoras no Vale do Ribeira é a obtenção de crédito para adquirir produtos e inovações que promovam práticas de conservação no setor agrícola.
Em busca de soluções e conhecimento, Eneida e Carla participaram da oitava edição do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, realizado em São Paulo. Elas tinham a expectativa de compartilhar suas experiências, fazer contatos e, acima de tudo, encontrar outras mulheres líderes no setor.
O evento teve início em 25 de outubro e se estenderá até 26 de outubro no Transamerica Expo Center. Assim como Eneida e Carla, outras mulheres representantes do setor enfatizaram a importância da presença feminina na busca por soluções que visem à recuperação de pastagens, regeneração do solo, valorização de espécies em sistemas agroflorestais e redução das emissões de gases poluentes, ao mesmo tempo em que garantem a produtividade em meio às constantes variações climáticas.
Durante o evento, a presidente da Embrapa, Silvia Masshuá, reiterou que o Brasil lidera estratégias de sustentabilidade, mas ainda precisa aprimorar a mensuração dos dados que comprovem a segurança alimentar para os mercados internacionais, consolidando sua posição como líder na transição dos sistemas agrícolas e energéticos.
Para atingir esse objetivo, Fabiana Alves, CEO do Rabobank no Brasil, enfatiza a necessidade de adotar uma abordagem tridimensional, que não apenas considere a sustentabilidade, mas também avalie os riscos e os retornos da produção, desempenhando um papel mais ativo nas negociações com outros mercados.
Nesse contexto, as mulheres do setor desempenham um papel fundamental, trazendo perspectivas mais sensíveis em relação a inovações e ao meio ambiente, como destacou a executiva, que é a primeira mulher a liderar a instituição financeira no país. Embora não haja programas de crédito exclusivos para mulheres, a executiva observa que as produtoras rurais estão cada vez mais comprometidas em tornar a cadeia agropecuária mais sustentável.
Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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