Estudo mostra as três práticas que mais emitem CO2 em fazendas de soja
Práticas agrícolas e sequestro de carbono no solo são conceitos podem caminhar juntos. E a soja, maior commodity agrícola do Brasil, tem importante participação nesse ideal.
Para mostrar o potencial dessa união, a Fundação Solidaridad lança estudo inédito que traça um retrato do balanço de CO2 na produção da oleaginosa no Matopiba, região entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, no bioma Cerrado.
Segundo a coordenadora de Projetos da entidade, Juliana Monti, foi analisado o estoque de carbono nas áreas com vegetação nativa e os cenários melhorados em função das práticas de manejo adotadas e mudanças de uso da terra nas áreas cultivadas.
“Os dados revelam informações importantes e oportunidades para produtores e empresas do setor, comprovando que é possível manter a rentabilidade com a implementação de práticas agrícolas de baixo carbono”, afirma.
Análises em 50 fazendas
Foram analisadas 50 fazendas da região do Matopiba em 22 municípios, com presença de diferentes tipos de vegetação do Cerrado. Juntas, totalizam mais de 155 mil hectares de soja.
A metodologia para o cálculo das estimativas de emissões e sequestro de carbono da produção de soja na região foi dividida em quatro categorias principais:
- Emissões da produção agrícola
- Emissões e sequestro pelo uso do solo
- Estoques de carbono contido nas áreas com vegetação nativa
- Emissões líquidas, também chamadas de balanço de carbono
A estimativa de emissões de carbono resultou em 150.575,90 tCO₂e/ano na safra 2019/2020. Desse total, cerca de metade foi originada pelo uso de corretivos agrícolas, seja pela calagem ou aplicação de gesso.
A segunda maior fonte de emissões foi o uso de fertilizantes nitrogenados, que contribuiu com 21,5% das emissões totais, sendo 60,9% originadas pela aplicação de ureia. “O uso desses insumos está mais associado às culturas de segunda safra, principalmente o milho”, destaca Juliana.
As demais fontes das emissões nas fazendas foram o uso de combustíveis em operações agrícolas (17%), decomposição de resíduos agrícolas (5,5%) e consumo de energia elétrica (0,5%).
Balanço das emissões
Da área analisada, o total de 38.653 ha foi destinado à segunda safra. A produtividade média foi de 58 sacas/ha/ano (3,5 ton/ha/ano), enquanto a da segunda safra foi de 98 sacas/ha/ano (5,9 ton/ha/ano).
Considerando o balanço de carbono, chega-se a -92.085,73 tCO₂e/ano, uma vez que o sequestro de -242.660,63 tCO₂e/ano, originado principalmente nas fazendas que adotam o Sistema de Plantio Direto (SPD), compensa 161,2% das emissões. Os valores médios obtidos das emissões de carbono por área foram de 0,97 tCO₂e/ha/ano e de 0,02 tCO₂e/saca/ano de soja produzida na safra 2019/2020.
Em relação ao balanço de carbono por área, o resultado médio foi de -0,59 tCO₂e/ha/ano e de -0,01 tCO₂e/saca/ano de soja produzida, apresentando um sequestro médio por área de -1,56 tCO₂e/ha/ano.
“O que vimos é que existe um potencial para melhorar as emissões, e que essas práticas disponíveis, como a rotação de culturas e o SPD, podem ser adaptadas para a realidade de cada região, otimizando o uso de recursos naturais e financeiros”, explica Juliana.
As fazendas avaliadas estão localizadas no bioma Cerrado e, para a mensuração do estoque de carbono da vegetação nativa, foram contabilizadas as áreas de Reserva Legal (RL) e aquelas em que havia Áreas de Preservação Permanente (APPs) e áreas de excedente florestal. A estimativa dos estoques de carbono com vegetação nativa nas fazendas avaliadas foi de 3.059.577 toneladas.
Oportunidades no manejo
A equipe responsável pelo projeto mensurou cenários de balanço de carbono com base em mudanças de uso e manejo de solo e que implicam em novos valores de sequestro e emissão de carbono, de acordo com os aspectos de cada um. Foram definidos quatro cenários: Cerrado para Sistema Plantio Convencional (SPC), Cerrado para SPD, Pastagem degradada para SPD e SPC para SPD. Cada um foi aplicado nas fazendas, possibilitando entender as mudanças em cada uma e comparar com os valores obtidos na linha de base.
Para os quatro estados do Matopiba, a tendência observada foi a mesma: somente o último cenário, em que o SPD passa a ser implantado na propriedade, apresenta um sequestro maior do que a linha de base.
A mudança do SPC para SPD ampliado para toda a região indica um potencial de sequestro de aproximadamente -357,6 mil tCO₂e/ano, o equivalente a um abatimento de 0,06% das emissões nacionais do setor agropecuário no ano de 2020, o qual foi de 567,7 milhões tCO₂e/ano.
Redução dos impactos
Segundo a especialista em Carbono da Fundação Solidaridad, Camila Santos, análises como essas indicam caminhos para produtores e produtoras rurais reduzirem os impactos ambientais gerados por suas atividades, juntamente com o fornecimento de informações para que as decisões tomadas sejam guiadas pelas prioridades locais e globais.
“Entretanto, é importante que mais pesquisas relacionadas ao tema sejam feitas nas regiões produtoras, para que seja possível trazer os resultados cada vez mais próximos à realidade de cada região. Os solos do Cerrado são diferentes, por exemplo, do solo dos Pampas, e é importante identificar essas diferenças e traduzi-las para o modelo”, salienta.
Calculadora de emissões
O estudo “Balanço de carbono na produção de soja do Matopiba” tem apoio da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (Norad), por meio da Iniciativa Internacional Norueguesa de Clima e Florestas (NICFI), e parceria da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). A pesquisa foi conduzida com a colaboração do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).
A metodologia apresentada e as análises de balanço de carbono na Bahia integrarão a calculadora de balanço de carbono do Sistema de Inteligência e Monitoramento Ambiental (Sima), plataforma desenvolvida pelo Senai Cimatec, com apoio do Land Innovation Fund e sob gerenciamento da Aiba.
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