Agropecuária

Produtores de leite desistem da atividade em Goiás

A disparada nos custos da produção leiteira, principalmente do ano passado pra cá, acelerou um processo de debandada de pecuaristas da atividade. A baixa rentabilidade, mesmo após uma reação nos preços do leite, está levando centenas de produtores a venderem seus animais, partirem para outra atividade ou até arrendarem suas terras para a produção de grãos ou para pecuária de corte. Por ser uma atividade que emprega muita mão de obra, a estimativa é de que este movimento acentue o êxodo rural, aumentando problemas sociais nas cidades, como o desemprego.

Nós últimos 12 meses, os preços recebidos pelos produtores de leite de Goiás subiram 47,14%, segundo dados do Cepea/USP. O problema é que os custos de produção aumentaram bem mais: só o Índice de Custo de produção de Leite (ICPLeite) da alimentação concentrada, calculado pela Embrapa Gado de leite, subiu 68,21% no período. O resultado é a baixa rentabilidade. “Muitos produtores que precisam investir fazem as contas e percebem que terão mais retorno arrendando as terras, sem precisarem se endividar e até mesmo trabalhar”, explica o presidente da Comissão de Pecuária Leiteira da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), Vinícius Corrêa.

Muitos dos municípios que estão entre os maiores produtores do Estado estão com suas populações praticamente estagnadas. No caso de Itapuranga, nono no ranking estadual, houve até uma queda nos últimos anos. O presidente do Sindicato Rural de Itapuranga, Márcio Ribeiro, prevê que o número de produtores de leite tenha sido reduzido quase pela metade na região. Ele confirma que o motivos são os altos custos de produção, que não são acompanhados pelos preços do leite. “É crescente o número de produtores abandonando as propriedades e indo para cidade”, conta.

Dados da Cooperativa Mista de Piracanjuba (Coapil) mostram que o número de pecuaristas de leite teve uma drástica redução entre 2011 e 2021, passando de 751 para 374. A produção de leite no mesmo período caiu de 3,4 milhões para 2,1 milhões de litros. O presidente do Sindicato Rural de Piracanjuba, Gustavo Elias Filho, lembra que o município já foi o segundo maior produtor de leite do Estado e o quarto do País. “Hoje, Piracanjuba já não vive mais do leite. A necessidade de investimento tirou do negócio quem tinha menos recursos, pois os preços não acompanharam os custos no período”, explica.

De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Orizona, Geovando Pereira, só do ano passado para cá, 36 produtores do município já abandonaram a atividade por causa da falta de retorno financeiro e dificuldades para investimento. Segundo ele, com o alto custo para manter a produção, quando o preço baixa, o pecuarista imediatamente entra no vermelho, situação que o consumidor final desconhece. Por isso, muitos estão arrendando suas terras para produção de soja e milho. “Antes, quando o produtor deixava de tirar o leite, suas vacas só trocavam de dono. Hoje, com o alto preço da carne, elas estão indo para o frigorífico”, ressalta.

O Censo Agropecuário do IBGE revelou que havia 72.300 propriedades rurais com pecuária leiteira no Estado em 2017. Mas o diretor Executivo do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Edson Novaes, diz que a estimativa é que, hoje, entre 55 mil e 60 mil destes produtores ainda entreguem leite. Muitos estão migrando seus planteis do gado de leite para o de corte.

Esta foi a decisão tomada pelo pecuarista João Pereira da Silva, de Piracanjuba, que está trocando seu rebanho de leite pelo de corte. Ele lembra que uma vaca precisa comer até 8 quilos de ração por dia, cuja saca de 40 quilos sai por R$ 92, e 20 quilos de silo, cuja tonelada já custa entre R$ 300 e R$ 350. “Vendendo o litro do leite por R$ 2,23, não cobre o custo de produção”, garante. Além disso, tirar mil litros de leite por dia exige, pelo menos, 4 funcionários, enquanto manter o gado no semiconfinamento demanda só uma pessoa. João já reduziu seu plantel leiteiro de 60 para 20 cabeças, que já dão lugar ao gado de corte, e pretende continuar vendendo até zerar a produção de leite. “A pecuária de corte é menos trabalhosa e o preço da carne hoje remunera bem mais.”

Por isso, Goiás já perdeu posições no ranking nacional: foi de segundo maior produtor no ano 2000 para quarto em 2019. Mas os produtores acreditam que hoje o Estado esteja numa posição ainda mais baixa. O engenheiro agrônomo Dorismar Antônio Paiva Júnior conta que ele e o pai, Dorismar Antônio Paiva, desistiram da pecuária leiteira no último mês de fevereiro, quando esbarraram na necessidade de investir R$ 2 milhões em estrutura para continuar produzindo. Segundo ele, isso se tornou inviável num cenário de preços baixos e custos de produção cada vez mais altos.

O pai produziu por mais de 35 anos e chegou a tirar 3,5 mil litros por dia no município de Orizona. Eles forneciam o produto para um grande laticínio goiano e já ganharam até prêmios pela qualidade da produção. “Mas começamos a perceber que as contas não fechavam mais a ponto de permitir os investimentos, pois os valores recebidos já não cobriam nem os custos mais”, completa.

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