Pesquisa da UFG encontra ovos de Aedes aegypti já infectados por zika e chikungunya em Goiânia
Um dado que serve de alerta às autoridades de saúde foi revelado após uma pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG). O estudo encontrou ovos do mosquito Aedes aegypti infectados por zika e chikungunya antes mesmo da eclosão (nascimento) do inseto. A coleta dos ovos foi feita em diversas regiões de Goiânia e lideradas por Diego Michel Fernandes, principal pesquisador do projeto.
“Esses vírus podem estar incubados nos ovos esperando o momento de novas epidemias, em tempos de seca, eles [vírus] usam isso como um mecanismo de continuar seu ciclo de vida na natureza porque não conseguem inclodir pela falta de água. Estão ali incubados em ovos de Aedes aegypti esperando para gerar outras endemias”, explicou Diego.
Ou seja, a presença do vírus em ovos indica uma “transmissão vertical”, quando não há um hospedeiro humano, o que é preocupante em um contexto de endemias (entenda melhor abaixo). A pesquisa é fruto do estudo do mestrado de Diego Michel na área de genética e biologia molecular, finalizado em 2023.
O artigo final será publicado na Revista Brasileira de Medicina Tropical nesta semana e conta com a participação de uma vasta equipe de trabalho (confira no fim da reportagem).
Afinal, por que é um alerta?
Segundo Diego, é comum na ciência o fato que os mosquitos já infectados acabam picando uma pessoa que serve como hospedeira do vírus. Essa é a transmissão horizontal.
No estudo abordado na UFG, a transmissão é vertical. Neste caso, pode acontecer um aumento das arboviroses, doenças causadas por vírus transmitidos, principalmente, por mosquitos (dengue, chikungunya e zika).
“O mosquito infectado deposita os ovos já com o vírus no ovo. Então, esse mosquito quando ele eclodir, já estará altamente infeccioso, ele não precisará procurar um hospedeiro contaminado para se contaminar e aí sim proliferar, ele já estará contaminado desde o nascimento”, explicou.
O que pode ser feito?
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Ao g1, Pedro Moraes, superintendente Vigilância Sanitária em Goiânia, explicou que o dado contribui para o monitoramento da transmissão de arboviroses. Assim, o órgão pode planejar ações de intervenção, como prevenção e combate ao mosquito.
“Não tem nenhuma novidade na forma de combater, o que pode surgir é uma nova tecnologia mais eficaz. Tudo que pode ser feito no combate, Goiânia está fazendo”, pontuou Pedro.
Inovação e metodologia
Ao g1, Diego explicou que, na literatura científica, a pesquisa é inovadora. O estudo foi feito em parceria com a Vigilância Sanitária. Os ovos de Aedes aegypti foram coletados em diferentes regiões de Goiânia, perto de matas e bosques.
Após a coleta, os ovos foram levados para laboratório para acompanhar o desenvolvimento até a eclosão. Os insetos foram identificados e separados por espécie. Apenas o Aedes aegypti foi estudado na pesquisa da UFG, por conta de sua incidência e relevância.
Os insetos foram separados por sexo e, no fim, os pesquisadores conseguiram 1.570 fêmeas, divididas em “pools” de 10 em cada. Depois, foi feita uma extração para localizar os vírus existentes nos ovos.
“A gente conseguiu localizar em dois pools, que tinham 20 mosquitos, a presença de chikungunya e um pools de 10 mosquitos, a presença de zika”, explicou Diego.
Ideia
Diego é formado em ciências biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), fez mestrado e cursa o doutorado em genética e biologia molecular na UFG. Ao g1, ele explicou que a ideia do estudo surgiu de sua orientadora, que estuda as arboviroses.
“Ela viu a necessidade de a gente fazer essa análise, porque já tem relato na literatura de artigos que contam de mosquitos que foram infectados em laboratório, e quando eclodiram, eles puderam observar que realmente estavam contaminados com o vírus”, explicou.
Mas no caso do estudo da UFG, é diferente. “A gente recebeu esses ovos e eles estavam naturalmente infectados, eles estão tendo uma infecção dentro. É o diferencial do nosso artigo”, detalhou.
Aedes aegypti é reconhecido por sua coloração escura com listras brancas ao longo do corpo e pernas; ele é menor que outros mosquitos comuns e é diurno — Foto: GETTY IMAGES via BBC
Equipe
O estudo foi feito coletivamente. Começou em 2021, as coletas foram realizadas em 2022 e início de 2023. “Foram diversas pessoas envolvidas nesse trabalho, como mestres, doutores e pessoas de iniciação científica. Ele foi desenvolvido no laboratório e aqui também a gente desenvolve outros diagnósticos moleculares rápidos para detectar esses patógenos”, finalizou Diego.
Atuaram na pesquisa:
- Diego Michel Fernandes Da Silva
- Juliana Santana de Curcio
- Lívia do Carmo Silva
- Flávia Barreto de Sousa
- Carlos Eduardo Anunciação
- Silvia Maria Salem-Izacc Furlaneto
- Victoria Porto Sandre Missiatto Silva
- Marco Túlio Antônio Garcia-Zapata
- Elisângela de Paula Silveira-Lacerda
*Por Michel Gomes, g1 Goiás